quarta-feira, 28 de abril de 2010

Ilusão

Um texto dedicado às meninas sensíveis (sim, eu também tenho um lado romântico... e dramático).

A chuva gelada caia em gotas grossas, formando lagos onde o seu reflexo lhe parecia ainda mais detestável. O vento uivava, trazendo consigo a desgraça da sua existência. Um cheiro a terra molhada pairava no ar.
Levantou-se, encharcado, da pedra fria e rugosa. Jorros de água caiam do capuz do casaco para depois recolherem as lágrimas na face. Parecia que ainda sentia o toque das mãos dela na nuca enquanto se beijavam, enquanto se perdiam naquele longo e apaixonante momento.
Expectativas que se tornaram numa ilusão; beijos que, afinal, não eram momentos apaixonantes... Ilusões... É incrível como nos podemos deixar enganar pelo amor, fascinante como nos pode destruir a alma de um momento para o outro! Beijos, e depois, nada!
Caminhou com passos lentos e pesados em direcção ao muro baixo de onde podia ver toda a cidade, ignorando o barulho confuso e irritante dos carros lá em baixo; as buzinas reclamando por motivos absurdos e as pessoas atropelando-se na azáfama de fugir da chuva.
As vozes que o chamavam para o esquecimento tornavam-se mais intensas, mas os factos não se podem ignorar. Esquecer seria desprezar, considerar que aquilo nunca tinha acontecido. Mas tinha acontecido, e isso não iria mudar. Seria cobarde reprimir esses sentimentos para fugir do sofrimento; o choro e a dor faziam-no sentir-se bem, porque lhe davam uma sensação de vida, a certeza de que ainda existia e era capaz de sentir. Sentir a dor, já que o toque dela desaparecera.
Na verdade, ela evaporara-se da sua vida sem aviso nem motivo, de um momento para o outro. E com ela a vontade de viver, a vontade amar. Tudo o que ele queria era amá-la, senti-la, ouvir e dizer palavras de amor e carinho num sussurro quente e intímo. Mas a realidade era que, inconscientemente e sem saber porquê, ele já suspeitava que aqueles momentos pudessem estar a chegar ao fim, embora todas as suspeitas não o tivessem preparado para aquela separação, tão rápida e repentina.
Parecia que ainda sentia os seus braços envolvê-lo naquele dia frio e chuvoso em que tudo começou, um dia como aquele em que lamentava o fim. E o desejo do calor dos seus abraços ainda consumia o seu ser. Aqueles beijos que o faziam mergulhar na imensidão da felicidade, porque quando os lábios dela tocavam os dele, o resto desaparecia e ficavam só eles, envoltos num preguiçoso afecto de adolescentes.
Abriu os braços num desespero irreflectido, deixando as gotas rebolar-lhe pela face petrificada e lívida. Já não queria existir, só desejava que as lágrimas que soltava o fizessem desaparecer de uma vez; queria sair daquele mundo repleto de desilusões e de pessoas para quem a solução para todos os males era o esquecimento. Onde ficara o esforço, o lutar por aquilo que queremos? Provavelmente fechado num cofre escuro, enterrado nas areias do... esquecimento!
Acabavam assim os finais de tarde num café, num canto acolhedor trocando beijos, abraços, palavras de amor, olhares provocadores... E terminavam também as mensagens com promessas de amor eterno e com um utópico “és tudo para mim”. Enfim, assim acabavam os momentos deliciosos daquela paixão que o fazia continuar. Com ela a seu lado, acordar cedo para ir para as aulas nem parecia tão mau; mas agora estava novamente preso nas leis entediantes da mesma rotina.
Teria aquilo significado alguma coisa para ela? Teriam aqueles momentos sido tão deliciosos para ela como haviam sido para ele? Muito provavelmente a resposta era não. E por isso a sua dor era ainda maior; tinha, no fim de contas, sido usado, depois de todas aquelas cartas e mensagens, depois de todas aquelas tardes e, principamente, depois de todas aquelas promessas, que afinal não passavam de simples textos vazios, isentos de qualquer significado, redigidos pelo simples capricho de manter uma relação oportuna. Divagações da sua mente, talvez... Ou talvez não... A verdade foi que ela não teve problemas em encontrar outro amor, e pouco tempo depois lá estava ela, a prometer mais paixão que não tinha para oferecer...
Inevitavelmente, a raiva poderou-se dele, e o amor que sentia por ela deu lugar ao ódio. Ele tinha-se agarrado com tanta força àquele romance de jovens apaixonados, depositado tanto de si naquela relação prometedora; e ela partia-lhe simplesmente o coração... O amor pode ser verdadeiramente ascoroso!
Os seus ombros estavam pesados e doridos assim que despertou daquele momento em que as recordações e os pensamentos lhe passeavam na mente. Os nós dos dedos pareciam ter-se transformado em pedra e o vento glaciar dava a sensação de estar a cortar a cara. Baixou então os braços, resignado. Pensou então em acabar de vez com todo aquele sofrimento; tão fácil como deixar que uma rajada mais forte de vento o atirasse para o fundo rochoso daquele pequeno precípicio; uma ideia absurda fruto dos delírios a que o amor pode sujeitar. O sol escondia-se, cobarde, atrás das densas nuvens negras. A cidade, cinzenta, tornava o momento ainda mais deprimente.
As recordações ficariam e ele nunca se esqueceria daquela paixão ardente de adolescentes perdidos numa esperança de romance eterno, nem tão pouco do coração despedaçado pela desilusão de um amor não correspondido. Ela podia gostar dele, mas decerto não o amava; ele, por outro lado, amara-a profundamente, adorara o seu toque suave, os seus beijos longos, as suas palvras de carinho. Amara. Já não amava, porque por muito grande que o sentimento fosse, nada justificaria aquela ilusão.
Live la Vida Sofa!
El Sofa

sábado, 24 de abril de 2010

A verdadeira utilidade dos filmes lamechas

Qualquer homem já se perguntou porque continua a ceder à vontade dela de querer ver aqueles filmes lamechas e cheios de marmelada, enquanto as prateleiras dos clubes de vídeo estão recheadas de bons filmes de acção e comédia perversa, cheios de explosões e asneiras de fazer qualquer mafioso corar.



Chove. Aquela rapariga linda de olhos azuis com que qualquer homem sonha percorre o passeio deserto e cinzento, num fim de tarde escuro e triste. Os seus cabelos castanhos molhados envolvem-lhe a cara, enquanto fios de água da chuva lhe percorrem o rosto e disfarçam as lágrimas. Então, vê uma frágil flor amarela, espreitando por uma fenda no passeio de cimento. Aquela pequena flor colorida no meio da imensa tristeza cinza, sobrevivente das adversidades, esperança entre a resignação. Ouve passos chapinhar nas poças e olha para cima. É ele, abraçam e beijam-se debaixo da chuva. E o resto deixo à vossa imaginação.
Bem, parece-lhes familiar? Não vos soa àqueles filmes com tanto mel que até dói o osso? Este podia bem ser um excerto do guião de um desses filmes; ou parte de um livro do Nicolas Sparks (inevitavelmente adaptado por Hollywood para satisfazer as necessidades das senhoras mais sensíveis). Enquanto homem e apreciador de filmes não-lamechas (não me refiro, de todo, a películas tipo Rambo, aliás, sou dos primeiros a rejeitar um filme desses. Mas não estamos a falar das minhas preferências cinematográficas, portanto adiante), isto não me agrada particularmente; quero dizer, não significa que não o veja, mas não seria a primeira escolha... pelo menos até descobrir a verdadeira utilidade dos filmes lamechas. Passo a explicar.

Li à pouco tempo um artigo intitulado "As mulheres também são badalhocas", e a conclusão a que o autor chegou foi que a menina bonita e inocente de outros tempos (que todos nós ainda esperamos ver) já não existe. As meninas de hoje são tanto ou mais perversas que os homens, capazes de verdadeiras loucuras. Dito isto, vejamos. As mulheres, apesar das mudanças de mentalidades, continuam a gostar de um bom filme romântico, em casa, aconchegadas no sofá com o parceiro (ou parceira, sabe-se lá), a comer pipocas feitas no microondas. No meio de um enredo recheado de muita e farta lamechice, dois cenários são possíveis: um, o casal fica junto, beijam-se ao pôr-do-sol e têm muitos filhos (cenário positivo); dois, um dos parceiros morre e o outro tem de enfrentar o futuro sem o seu mais-que-tudo (cenário negativo). Portanto, no primeiro caso, a mulher fica com a lágrima ao canto do olho, mas feliz, e imagina que a sua vida vai ser assim com o seu pareceiro, e agarra-se a ele como que para garantir que ficarão para sempre juntinhos; no segundo caso, a mulher é provável que chore, pense "e se aquilo te acontecer?", e acaba por se agarrar ao parceiro, como que para lhe dar um sinal de afecto, caso tal aconteça (já se sabe que as mulheres são capazes de fazer novelas em segundos). Ou seja, resumindo e concluindo, elas acabam sempre agarradas ao pareceiro.

É aqui que entramos nós. Aproveitando toda aquela enorme sensibilidade feminina, o homem faz a sua jogada. Ela agarrada a ele, tem uma subita necessidade do o beijar, como no filme que acabaram de ver, enroscam-se e... sexo! Eis que aqui têm, homens do mundo: a verdadeira utilidade dos filmes lamechas: sexo! Não se preocupem se elas estão num momento vulnerável, porque não estão: ora, primeiro as mulheres também são perversas; segundo, elas nunca choram nem se sensibilizam ao ponto de se tornarem demasiado vulneráveis (quer dizer, de um momento tocante de trazer lágrimas aos olhos ao sexo vai um grande passo, por isso se realmente o envolvimento acontecer a culpa também é dela).

Tirada a conclusão, não nos podemos deixar de perguntar se o "Titanic" somente pretendia divulgar uma história trágica...




P.S.: MUITO IMPORTANTE- falar de mulheres e dos seus sentimentos, principalmente quando se sugere usá-los em função do sexo, pode ser muito perigoso. Por isso, e tendo em conta a complexidade imensa do tema, devo referir que:

1. este é um artigo essencialmente masculino (prometo fazer também destinados ao sexo feminino, embora com outros temas mais apropriados);

2. este artigo não tem qualquer objectivo machista, e peço às mulheres que lerem isto que não o interpretem dessa forma (aliás, se o acharem incorrecto, digam através de um comentário);

3. os comentários acerca das mulheres serem perversas referem-se essencialmente a jovens raparigas;

4. este é o resultado de uma das minhas conversas com outros homens, pelo que é espontâneo e, bem, já sabem como são os homens.




Live la Vida Sofa,

El Sofa

sábado, 17 de abril de 2010

Livin' la Vida Sofa_ The Beginning



>>Raise your voice and express your mind

Com o rabo no sofá, com as nádegas bem aconchegadas e bem quentinhas, I live la vida sofa. Honestamente, quem algum dia dirá que la vida on a sofa não é a melhor vida que se pode levar? Talvez as loucuras no sofá não sejam tão radicais como as non-sofa, mas não deixam de ser aliciantes! De qualquer forma, Livin' la Vida Sofa é somente seguir a tradição portuguesa e ficar no bem-bom... não parece nada difícil. Mas vamos ao mais sério:
Enquanto nesta terra isolada e desprezada se vai divagando, também se vai devagar (se é que se vai). É por isso que, num local tão deserto e estéril de ideias e ideais, onde, à semelhança do que vai acontecendo por todo este país encalhado à beira do Atlântico, não mais se faz do que seguir o que os outros ditam, ser único e original é de uma importância clara. Não seguir o rebanho de mentalidades moldadas ao sabor da ditadura de valores da sociedade, imprimir uma marca no meio da vulgaridade; ser, no fundo, alguém, e não um produto massificado da fábrica social.
E nós, recolhidos no meio do nada, vamos seguindo devagar. Muito devagar.

Enfim, no fundo este blog tem objectivos muito simples: ser um centro de discussão, de opinião, de liberdade de expressão, de partilha de ideias, de divagações, de contestação, de indignação; mas onde também publicarei textos livres, desde reviews de filmes e músicas, a textos loucos, a composições nonsense, sem sentido, a histórias de terror e comédias, notícias e muito mais... Sem esquecer las loucuras of life... on a sofa!

Embora devagar, ainda conseguimos divagar....

Boas divagações! And live la vida sofa!!!